Janaína
Janaína sabia que nada daquilo acabaria o amor. Sentia que nem o não pegar a cadeira, nem o não ceder o lugar, nem o fingir não prestar atenção na conversa ou fingir ir embora, acabariam o amor. Ele não acabaria seu próprio amor, muito menos o dela.
Ao virar a esquina, após despedirem-se com ares de para sempre, sabia que ele retornaria ao bar, pediria uma dose de uma pinga qualquer, beberia em um gole só, acenderia um cigarro de péssima qualidade e choraria copiosamente.
Ao virar a esquina, sabia que era tudo uma grande mentira, que a despedida não era mais que um até breve, que não era eterna. Sabia que no próximo dia encontrariam-se em um outro bar qualquer, sentariam-se, dividiriam uma mesa e não um balcão, e contariam estórias e histórias amenas. Falariam compulsivamente sobre amores e sabores, ela fingiria ainda manter um companheiro há muito ido para que ele fingisse ser o amante. Ele fingiria ser o dono de um amor livre eterno, que não se prende, para ela sentir-se um rolo qualquer.
Ao virar a esquina, secando as lágrimas, sabia que suas dores eram tão grandes quanto as dele, e se entregou à imagem patética da tentativa ignóbil de estraçalhar o amor. Janaína pensou, então, que bobagem era essa, o medo do estar, e o medo da dor (não que lesse “O Pequeno Príncipe”). Janaína, ao virar a esquina, sentiu a pontada paradoxal que é o amor: hoje se despedia para a eternidade, amanhã juraria amor eterno.
Ao dobrar a esquina a passos curtos em rumo a casa, Janaína pensou em toda a cena atual desse amor-paradoxo: decadente e incandescente, constante abandonar e refazer. Despediam-se lamentosos toda noite na rodoviária, com o olhar de última vez, e, já no outro dia, como que por destino, se esbarravam no primeiro bar em que entravam. Aí, despiam-se de todo o pudor e de todas as lágrimas, e se beijavam em público. Ela, uma mulher casada (para ele), e ele um homem sem amarras românticas (para ela). E a imagem idiota de abandonar o amor lhe voltou à mente.
Ao virar a esquina, pensou em mil coisas, as que sabia e as que não sabia, as que sentia e as que a faziam rir, as que sentia e a faziam chorar, e pensou em voltar, chegar no bar, pegar uma cadeira, e chorar ao lado dele. Recuou um ou dois passos, mas resignou-se e pôs-se a andar novamente. Não que não tivesse uma profunda vontade de vê-lo e falar-lhe de toda essa imbecilidade que era armar encontros como se fosse o fim de tudo... (afinal, isso acontecia toda semana, quando não ele, ela armava) Claro que tinha. Mas foi-se embora pensando em poemas. Ao virar a esquina sabia que amanhã o telefone tocaria, e os dois iriam tomar uma cerveja decente em um bar qualquer de agrado dos dois. Janaína foi-se embora dolorida, com um medo de que, de fato, aquela fosse a última vez, mas pensou em poesia.
Vai embora, Amor,
Que não te quero.
Vai embora, Amor,
Que não te quero em mim.
Vai embora, Amor,
Pois não te quero.
Vai-te embora, Amor!
Sei que se ficar
Nunca irás embora, enfim.
Ao virar a esquina, após despedirem-se com ares de para sempre, sabia que ele retornaria ao bar, pediria uma dose de uma pinga qualquer, beberia em um gole só, acenderia um cigarro de péssima qualidade e choraria copiosamente.
Ao virar a esquina, sabia que era tudo uma grande mentira, que a despedida não era mais que um até breve, que não era eterna. Sabia que no próximo dia encontrariam-se em um outro bar qualquer, sentariam-se, dividiriam uma mesa e não um balcão, e contariam estórias e histórias amenas. Falariam compulsivamente sobre amores e sabores, ela fingiria ainda manter um companheiro há muito ido para que ele fingisse ser o amante. Ele fingiria ser o dono de um amor livre eterno, que não se prende, para ela sentir-se um rolo qualquer.
Ao virar a esquina, secando as lágrimas, sabia que suas dores eram tão grandes quanto as dele, e se entregou à imagem patética da tentativa ignóbil de estraçalhar o amor. Janaína pensou, então, que bobagem era essa, o medo do estar, e o medo da dor (não que lesse “O Pequeno Príncipe”). Janaína, ao virar a esquina, sentiu a pontada paradoxal que é o amor: hoje se despedia para a eternidade, amanhã juraria amor eterno.
Ao dobrar a esquina a passos curtos em rumo a casa, Janaína pensou em toda a cena atual desse amor-paradoxo: decadente e incandescente, constante abandonar e refazer. Despediam-se lamentosos toda noite na rodoviária, com o olhar de última vez, e, já no outro dia, como que por destino, se esbarravam no primeiro bar em que entravam. Aí, despiam-se de todo o pudor e de todas as lágrimas, e se beijavam em público. Ela, uma mulher casada (para ele), e ele um homem sem amarras românticas (para ela). E a imagem idiota de abandonar o amor lhe voltou à mente.
Ao virar a esquina, pensou em mil coisas, as que sabia e as que não sabia, as que sentia e as que a faziam rir, as que sentia e a faziam chorar, e pensou em voltar, chegar no bar, pegar uma cadeira, e chorar ao lado dele. Recuou um ou dois passos, mas resignou-se e pôs-se a andar novamente. Não que não tivesse uma profunda vontade de vê-lo e falar-lhe de toda essa imbecilidade que era armar encontros como se fosse o fim de tudo... (afinal, isso acontecia toda semana, quando não ele, ela armava) Claro que tinha. Mas foi-se embora pensando em poemas. Ao virar a esquina sabia que amanhã o telefone tocaria, e os dois iriam tomar uma cerveja decente em um bar qualquer de agrado dos dois. Janaína foi-se embora dolorida, com um medo de que, de fato, aquela fosse a última vez, mas pensou em poesia.
Vai embora, Amor,
Que não te quero.
Vai embora, Amor,
Que não te quero em mim.
Vai embora, Amor,
Pois não te quero.
Vai-te embora, Amor!
Sei que se ficar
Nunca irás embora, enfim.
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